quarta-feira, 22 de dezembro de 2010


Uma visita
 inesperada

Foi na noite de Natal. Um anjo apareceu a uma família muito rica e falou para a dona da casa.      
  - Trago-te uma boa notícia: esta noite o Senhor Jesus virá visitar a tua casa! 
Aquela senhora ficou entusiasmada. Jamais acreditara ser possível que esse milagre acontecesse em sua casa. Tratou de preparar um excelente jantar para receber Jesus. Encomendou frangos, assados, conservas, saladas e vinhos importados.
De repente, tocaram a campainha. Era uma mulher com roupas miseráveis, com aspecto de quem já sofrera muito.



- Senhora, - disse a pobre mulher, - Será que não teria algum serviço para mim? Tenho fome e tenho necessidade de trabalhar.
- Ora bolas! - retorquiu a dona da casa. - Isso são horas de me vir incomodar? Volte outro dia. Agora estou muito atarefada com um jantar para uma visita muito importante.
A pobre mulher retirou-se.  Um pouco mais tarde, um homem, sujo de óleo, veio bater-lhe à porta.     
   - Senhora, - disse ele,  - O meu caminhão avariou aqui mesmo em frente à sua casa. Não teria a senhora, por acaso, um telefone para que eu pudesse comunicar com um mecânico?


 A senhora, como estava ocupadíssima em limpar as pratas, lavar os cristais e os pratos de porcelana, ficou muito irritada.
- Você pensa que minha casa é o quê? Vá procurar um telefone público... Onde já se viu incomodar as pessoas dessa maneira? Por favor, cuide para não sujar a entrada da minha casa com esses pés imundos!
E a anfitriã continuou a preparar o jantar: abriu latas de caviar, colocou o champanhe no frigorífico, escolheu, na adega, os melhores vinhos e preparou os coquetéis.
Nesse momento, alguém lá fora bate palmas. “Será que agora é que é Jesus?” -pensou ela, emocionada. E com o coração a bater acelerado, foi abrir a porta. Mas decepcionou-se: era um menino de rua, todo sujo e mal vestido...  




- Senhora, estou com fome. Dê-me um pouco de comida! 
- Como é que eu te vou dar comida, se nós ainda não jantámos?! Volta amanhã, porque esta noite estou muito atarefada... não te posso dar atenção.
Finalmente o jantar ficou pronto. Toda a família esperava, emocionada, o ilustre visitante. Entretanto, as horas iam passando e Jesus não aparecia. Cansados de tanto esperar, começaram a tomar aqueles coquetéis especiais que, pouco a pouco, já começavam a fazer efeito naqueles estômagos vazios, até que o sono fez com que se esquecessem dos frangos, assados e de todos os pratos saborosos.
De madrugada, a senhora acordou sobressaltada e, com grande espanto, viu que estava junto dela  um anjo. 



- Será que um anjo é capaz de mentir? - gritou ela. - Eu preparei tudo esmeradamente, aguardei a noite inteira e Jesus não apareceu. Por que é que você fez  essa brincadeira comigo?
- Não fui eu que menti... Foi você que não teve olhos para enxergar. -  explicou o anjo. - Jesus esteve aqui em sua casa  três vezes: na pessoa da mulher pobre, na pessoa do motorista e na pessoa do menino faminto, mas a senhora não foi capaz de reconhecê-lo e acolhê-lo em sua casa”.







Estava tanto frio! A neve não parava de cair e a noite aproximava-se. Aquela era a última noite de dezembro, véspera do dia de Ano Novo. perdida no meio do frio intenso e da escuridão, uma pobre menininha seguia pela rua afora, coma cabeça descoberta e os pés descalços. É certo que ao sair trazia um par de chinelos, mas não duraram muito tempo, porque eram uns chinelos que haviam pertencido à mãe, e ficavam-lhe tão grandes, que a menina os perdeu quando teve de atravessar a rua a correr para figir de um trem. Um dos chinelos desapareceu no meio da neve, e o outro foi apanhado por um garoto que o levou, pensando em fazer dele um berço para a irmã mais nova brincar.
     Por isso a menininha seguia com os pés descalços e já roxos de frio; levava no avental uma quantidade de fósforos, e estendia um maço deles a toda a gente que passava apregoando: - Quem compra fósforos bons e baratos? - Mas o dia tinha-lhe corrido mal. Ninguém comprara os fósforos, e, portanto, ela ainda não conseguira ganhar um tostão. Sentia fome e frio, e estava com a cara pálida e as faces encovadas. Pobre menininha! os flocos de neve caíam-lhe sobre os cabelos compridos e loiros, que se encaracolavam graciosamente em volta do pescoço magrinho; mas ela nem pensava nos cabelos encaracolados. Através das janelas, as luzes vivas e o cheiro da carne assada chegavam à rua, porque era véspera de ano Novo. Nisso sim é que ela pensava.
     Sentou-se no chão e encolheu-se no canto de um portal. Sentia cada vez mais frio, mas não tinha coragem de voltar para casa, porque não vendera um único maço de fósforos, e não podia apresentar nem uma moeda, e o pai era capaz de lhe bater. E afinal, em casa também não havia calor. A família morava numa água-furtada, e o vento metia-se pelos buracos das telhas, apesar de terem tapado com farapos e palha as fendas maiores.
     Tinha as mãos quase paralisadas com o frio. Ah, como o calorzinho de um fósforo aceso lhe faria bem! Se ela tirasse, um só, do maço e o acendesse na parede para aquecer os dedos! Pegou um fósforo e: Fcht!, a chama espirrou e o fósforo começou a arder! Parecia a chama quente e viva de uma candeia, quando a menina tapou com  mão mas que luz era aquela? A menina julgou  que estava sentada em frente a um fogão de sala cheio de ferros rendilhados. O lume ardia com uma chama tão intensa, e dava um calor tão bom! Mas o que se passava? A menina já estendia os pés para se aquecer, quando a chama se apagou e o fogão desapareceu. E viu que estava sentada sobre a neve, com a ponta do fósforo queimado na mão.
     Riscou outro fósforo, que acendeu e brilhou, e o lugar em que a luz batia na parede tornou-se transparente como tule. E a menininha viu o interior de uma sala de jantar onde a mesa estava coberta por uma toalha branca, resplandescentes louças finas, e mesmo no meio da mesa havia um ganso assado, com recheio de ameixas e purê de batata, que fumegava, espalhando um cheiro apetitoso. Mas, que surpresa e que alegria! De repente, o ganso saltou da travessa e rolou para o chão, com o garfo e faca espetados nas costas, até junto da menininha. O fósforo apagou-se, e a pobre menina só viu na sua frente a parede negra e fria.







     E acendeu um terceiro fósforo. Imediatamente se encontrou ajoelhada debaixo de uma enorme árvore de natal. Era ainda maior e mais rica que outra que tinha visto no último natal, através da porta envidraçada, em casa de um rico comerciante. Milhares de velinhas ardiam nos ramos verdes, e figuras de todas as cores pareciam sorrir para ela. A menina levantou ambas as mãos para a árvore, mas o fósforo apagou-se, e todas as velas ne Natal começaram a subir, a subir, e ela percebeu então que eram estrelas a brilhar no céu. Uma estrela maior do que as outras desceu em direção à terra, deixando atrás de si um rastro comprido de luz.
     "Foi alguém que morreu", pensou para consigo a menina; porque a avó, a única pessoa que havia sido boa para ela, mas já não era viva, dizia-lhe muitas vezes:"Quando vires uma estrela cadente, é uma alma que vai a caminho do céu."
     Esfregou ainda mais outro fósforo na parede: fez-se uma grande luz, e no meio apareceu a avó, de pé, com uma expressão muito suave, cheia de felicidade!
-Avó!- gritou a menina- leva-me contigo! Quando este fósforo se apagar, eu sei que já não estarás mais aqui. Vais desaparecer como o fogão de sala, como o ganso assado e como a árvore de Natal, tão linda.
     Riscou imediatamente o punhado de fósforos que reatava daquele maço, porque queria que a avó continuasse junto dela, e os fósforos espalharam uma luz tão brilhante como se fosse dia. Nunca a avó lhe parecera tão alta, em tão bonita. Tomou a neta nos braços e, soltando os pés da terra, no meio daquele resplendor, voaram ambas tão alto, que já não podiam sentir o frio, nem fome, nem desgostos, porque tinham  chegado ao reino de Deus.
     Mas ali, naquele canto, junto ao portal, quando rompeu a manhã gelada, estava caída uma menininha, com as faces roxas, um sorriso nos lábios...morta de frio, na última noite do ano. O dia de Ano Novo nasceu, indiferente ao pequenino cadáver, que ainda tinha no regaço um punhado de fósforos. - Coitadinha, parece que tentou aquecer-se! - exclamou alguém. Mas nunca ninguém soube quantas coisas lindas a menina viu à luz dos fósforos, nem o brilho com que entrou, na companhia a avó, no ano Novo.