Faz bem ter amigos
Vários estudos têm se dedicado a pesquisar o poder da amizade sobre a longevidade e a qualidade de vida.
Um deles acompanhou 2 835 mulheres australianas durante 10 anos e
concluiu que aquelas que eram socialmente isoladas, após receberem um
diagnóstico de câncer de mama, tinham 66% mais risco de morrer do que as
cercadas por amigos e parentes. Outro estudo, realizado na Suécia,
mostrou que, ao lado do tabagismo, a falta de redes sociais - ou seja,
amizades - foi o principal fator de risco para o desenvolvimento de
doenças coronárias entre homens. Há até um cálculo para medir a
influência das boas amizades: cada amigo feliz aumenta em 9% a nossa
probabilidade de nos sentirmos felizes também. Tantos benefícios fazem
sentido evolutivamente. Durante milênios, a vivência em grupos aumentou
as chances de sobrevivência dos humanos. Quer dizer, era aprender a
viver em sociedade ou morrer. De certa forma, no mundo moderno, as
amizades também são essenciais para quem as cultiva. Pesquisas mostram
que os gestos de carinho produzem benefícios não só para quem os recebe
mas também para quem os cede. Um exemplo disso é que as pessoas que
dizem a um amigo como ele é importante para elas têm 48% mais chance de
estar extremamente satisfeitas com suas amizades. Ou seja, ter amigos é
quase um ato interesseiro. "Ao fazer amizades, o ser humano
age em seu próprio interesse, mas não o faz conscientemente. A
motivação para essas alianças não é meramente calculista.
Psicologicamente, precisamos desses laços afetivos", diz o biólogo
Eduardo Ottoni, pesquisador de psicologia evolucionista na USP.
Mas, para desfrutar desses benefícios, é preciso ter a habilidade de
fazer amizades. Uma característica que, você já deve ter percebido, não é
igualmente distribuída por aí. Por que algumas pessoas parecem ímãs de
amigos e outras têm tanta dificuldade em manter relações? "As amizades
requerem trabalho para cultivá-las. A gente não tem amigos, a gente faz
amigos. E quem os tem em maior número são geralmente aqueles com
capacidade de gerenciar esses relacionamentos e não negligenciá-los",
diz Rebecca Adams, socióloga da Universidade North Carolina. Tanto
esforço é recompensado principalmente na idade avançada. É na velhice
que se torna essencial se manter ativo e com novos projetos - algo que
as amizades propiciam. No fim da vida,
se sentir útil traz mais benefícios para nós mesmos do que para os
demais. E é isso que o estudo concluiu. "Desde que nascemos, somos
neurologicamente preparados para valorizar o afeto sobre todas as
coisas. Fama, sexo e grandes banquetes passam; no fim das contas,
ninguém consegue abraçar dinheiro. Exercícios, peso saudável e educação
cuidam da saúde. Mas são os laços de afeto e amizade que asseguram a
alegria", diz Vaillant, o mentor do Grant Study. Os dois participantes
do estudo do começo desta reportagem comprovam a tese: Mike, cheio de
amigos, viveu uma vida feliz até os 70 anos. John, solitário, se matou aos 53.