terça-feira, 27 de março de 2012



 Faz bem ter amigos
Vários estudos têm se dedicado a pesquisar o poder da amizade sobre a longevidade e a qualidade de vida. Um deles acompanhou 2 835 mulheres australianas durante 10 anos e concluiu que aquelas que eram socialmente isoladas, após receberem um diagnóstico de câncer de mama, tinham 66% mais risco de morrer do que as cercadas por amigos e parentes. Outro estudo, realizado na Suécia, mostrou que, ao lado do tabagismo, a falta de redes sociais - ou seja, amizades - foi o principal fator de risco para o desenvolvimento de doenças coronárias entre homens. Há até um cálculo para medir a influência das boas amizades: cada amigo feliz aumenta em 9% a nossa probabilidade de nos sentirmos felizes também. Tantos benefícios fazem sentido evolutivamente. Durante milênios, a vivência em grupos aumentou as chances de sobrevivência dos humanos. Quer dizer, era aprender a viver em sociedade ou morrer. De certa forma, no mundo moderno, as amizades também são essenciais para quem as cultiva. Pesquisas mostram que os gestos de carinho produzem benefícios não só para quem os recebe mas também para quem os cede. Um exemplo disso é que as pessoas que dizem a um amigo como ele é importante para elas têm 48% mais chance de estar extremamente satisfeitas com suas amizades. Ou seja, ter amigos é quase um ato interesseiro. "Ao fazer amizades, o ser humano age em seu próprio interesse, mas não o faz conscientemente. A motivação para essas alianças não é meramente calculista. Psicologicamente, precisamos desses laços afetivos", diz o biólogo Eduardo Ottoni, pesquisador de psicologia evolucionista na USP.

Mas, para desfrutar desses benefícios, é preciso ter a habilidade de fazer amizades. Uma característica que, você já deve ter percebido, não é igualmente distribuída por aí. Por que algumas pessoas parecem ímãs de amigos e outras têm tanta dificuldade em manter relações? "As amizades requerem trabalho para cultivá-las. A gente não tem amigos, a gente faz amigos. E quem os tem em maior número são geralmente aqueles com capacidade de gerenciar esses relacionamentos e não negligenciá-los", diz Rebecca Adams, socióloga da Universidade North Carolina. Tanto esforço é recompensado principalmente na idade avançada. É na velhice que se torna essencial se manter ativo e com novos projetos - algo que as amizades propiciam. No fim da vida, se sentir útil traz mais benefícios para nós mesmos do que para os demais. E é isso que o estudo concluiu. "Desde que nascemos, somos neurologicamente preparados para valorizar o afeto sobre todas as coisas. Fama, sexo e grandes banquetes passam; no fim das contas, ninguém consegue abraçar dinheiro. Exercícios, peso saudável e educação cuidam da saúde. Mas são os laços de afeto e amizade que asseguram a alegria", diz Vaillant, o mentor do Grant Study. Os dois participantes do estudo do começo desta reportagem comprovam a tese: Mike, cheio de amigos, viveu uma vida feliz até os 70 anos. John, solitário, se matou aos 53.