domingo, 5 de fevereiro de 2012

 

A FALA DO SILÊNCIO 

Renato Dieckson Oliveira


  • Observo a fala do silêncio, da mesma forma em que se admira uma tela em branco.
    Uma tela em branco possui em si todas as cores mescladas em uma só.
    Um verdadeiro silêncio contém dentro de si todas as possibilidades de fenômenos acústicos, do sussurro ao grito, da folha caindo ao terremoto.
    O silêncio se situa entre o fim de um eco e o auge de uma algazarra ultrassônica em uníssono.
    O silêncio é o murmúrio de Deus, mas também é o suspiro de uma duvida.
    Antes de um trovão, o silêncio é palpável, em meio à multidão, o silêncio é invisível.
    Numa biblioteca, o farfalhar de páginas pode ser ouvido; numa boate, um tiro pode ser ignorado.
    No barulho, o som baixo é um silêncio. No silêncio um som baixo é um barulho.
    É o silêncio que forma palavras, e também é ele quem as dispensa: o silêncio fala muito numa imagem, por que as imagens valem mais do que mil palavras.
    Mas o silêncio fala pouco nos livros porque as palavras escritas preenchem os espaços vazios (silêncios) com palavras (sons). A palavra escrita é som em potencial: se lida em silêncio, ela rompe o silêncio interno, da mente: se lida em voz alta, a palavra rompe o silêncio externo, do ambiente.
    Em meio a uma conversa, o silêncio é perturbador; num cemitério à meia-noite, ele é desejável; para o músico, é o seu instrumento de trabalho; para o mudo, é uma imposição à sua expressão; para o surdo, é a ausência de impressão; e é por isso que os escritores são os oradores do silêncio.
    Para quem quer dormir, é necessário que ele seja mantido; para os que querem acordar, ele deve ser rompido.
    O silêncio pode significar extremos: algo de muito ruim ou de muito bom; para um casal, o silêncio é o excesso de amor ou a falta dele, se repleto de amor pode ser rompido com o barulho de um longo beijo.
    Para uma flor, o silêncio é vida; para um pássaro, é a morte.
    Para um falastrão, é uma dívida; para o gago, é um alívio; para o político, é uma derrota; para o palestrante, uma vírgula; para o sábio, uma meditação; mas para o ignorante, o silêncio é um castigo.
    E para você o que é o silêncio?
    Saiba interpretar, ouvir, saiba viver e aprender com a fala do silêncio. Com ele tens muito a aprender, arrisque compreender.