segunda-feira, 5 de maio de 2008



AH, QUANTA melancolia!
Quanta, quanta solidão!
Aquela alma, que vazia,
Que sinto inútil e fria Dentro do meu coração!
Que angústia desesperada!
Que mágoa que sabe a fim!
Se a nau foi abandonada,
E o cego caiu na estrada -
Deixai-os, que é tudo assim.
Sem sossego, sem sossego,
Nenhum momento de meu
Onde for que a alma emprego -
Na estrada morreu o cego
A nau desapareceu.
(Fernando Pessoa)